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Com pobreza duas vezes maior, negros enfrentam mais violência, insegurança e desemprego. E menos renda

18 de Novembro de 2022 / Trabalhador

Reprrodução/Alma Preta

As desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil “seguem evidentes” o mercado de trabalho, afirma o IBGE, que divulgou pesquisa nesta sexta-feira (11). Além de desemprego e informalidade sempre maiores entre pretos e pardos – classificação usada pelo instituto –, eles convivem com violência bem maior, com mais insegurança e muito mais pobreza. Em 2021, considerando a linha sugerida pelo Banco Mundial (US$ 5,50 por dia ou R$ 486/mês per capita), a proporção da pobreza no país era de 18,6% entre os brancos e quase o dobro entre negros (34,5%) e pardos (38,4%). A taxa de homicídios entre pardos é três vezes maior.

Já o desemprego, também no ano passado, teve taxa média de 11,3% para trabalhadores brancos, subindo a 16,2% entre pardos e 16,5% no caso do pretos. “As populações preta e parda representam 9,1% e 47% da população brasileira, respectivamente”, afirma o analista do IBGE João Hallak. “Mas, nos indicadores que refletem melhores níveis de condições de vida, a participação dessas populações é mais baixa”, acrescenta.

Mais desempregados e subutilizados
Ainda no mundo do trabalho, a taxa de subutilização (que considera pessoas que gostariam de trabalhar mais) foi de 22,5% entre brancos, 32% entre pretos e 33,4% entre pardos. “A distância varia um pouco, mas em todos os níveis de instrução a população branca tem taxa de subutilização inferior à da preta ou parda.”

Os brancos representam 43,8% da força de trabalho e eram 35,2% dos desempregados em 2021. Os pretos somam 10,2% e 12%, respectivamente. E os pardos, 45% e 52%. “Esse indicador já mostra uma desvantagem dessas populações na inserção no mercado de trabalho. As proporções das populações preta ou parda entre os desocupados e subutilizados são maiores do que elas representam na força de trabalho”, destaca Hallak.

Além disso, a informalidade atinge mais pretos e pardos. A taxa no ano passado era de 40,1%, mas caía para 32,7% entre brancos. E aumentava para 43,4% no caso dos pretos e ainda mais entre os pardos (47%).

Renda menor, menos cargos de comando
As diferenças se estendem à remuneração do trabalho. O rendimento médio dos ocupados brancos era de R$ 19 por hora. Caía para R$ 10,90 entre pretos (-42,6%) e para R$ 11,30 entre pardos (-40,5%).

“O estudo aponta que os rendimentos são maiores entre aqueles que têm maiores níveis de instrução, mas as diferenças por cor ou raça permanecem nesse recorte. As pessoas brancas com ensino superior completo ou mais ganharam em média 50% a mais do que as pretas e cerca de 40% a mais do que as pardas”, diz o IBGE.

Mesmo sendo maioria no mercado de trabalho (53,8% do total), pretos e pardos ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais. Na faixa de renda mais elevada, eles eram ainda menos: 14,6%, ante 84,4% de brancos.

Pobreza extrema e insegurança na moradia
Na linha de extrema pobreza (US$ 1,90/dia ou R$ 168/mês per capita), os dados reforçam as diferenças. A taxa foi de 5% para brancos, 9% para pretos e 11,4% no caso dos pardos. “Em 2021, havia 8,4% da população na extrema pobreza. O percentual da população branca estava abaixo dessa média. Já as populações preta e parda tinham proporções acima da média e dos brancos”, observa o também analista André Simões.

O IBGE aponta ainda maior insegurança de posse e informalidade na moradia. Entre os residentes em domicílios próprios, 20,8% das pessoas pardas e 19,7% das pretas estavam em locais sem documentação da propriedade. Praticamente o dobro do verificado entre brancos (10,1%). Além disso, os domicílios têm menos acesso a saneamento e menor número de cômodos.

Também no educação as condições são mais desfavoráveis aos negros. No período da covid, por exemplo, “houve condições desiguais de oferta e acesso às atividades escolares a distância em função da pandemia”. Assim, a falta de estrutura “prejudicou .especialmente os estudantes de menor renda, sendo, em sua maioria, pretos e pardos, moradores da zona rural e do Norte e Nordeste”. E a participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode ter sido afetada, também,, por essa desigualdade. “A taxa de comparecimento ao exame, isto é, a proporção de inscritos que efetivamente compareceram para realizar a prova, mostra que a vantagem dos brancos em relação aos demais grupos de cor ou raça se intensificou de 2019 a 2021”, aponta o IBGE.

Maior exposição à violência
Hallak cita um exemplo na área da saúde. No curso de medicina, 61% são a população branca e no de enfermagem, 37%. E o profissional médico é mais valorizado pelo mercado, tende a receber rendimentos muito mais elevados do que profissional da enfermagem. Então o tipo de curso superior também influencia no rendimento e os mais valorizados pelo mercado em termos de rendimento têm predominância de pessoas brancas.”

Pretos e pardos também sofrem mais violência física, psicológica ou sexual, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do próprio IBGE. Por sua vez, dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, mostra crescimento do número de homicídios entre 2019 e 2020. Nesse último ano, foram 49,9 mil homicídios, ou 23,6 mortes a cada 100 mil habitantes. Essa proporção sobe para 34,1 entre pardos, o triplo dos brancos (11,5) e 21,9 entre pretos. “A diferença entre essas taxas cresce ao longo da série histórica.”

 

Fonte: RBA

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