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Brasil segue em estabilidade, mas cientistas temem retomada da covid
21 de Outubro de 2021 / Saúde
Instituto Butantan
São Paulo – Nas últimas 24 horas, foram registradas 373 mortes ela covid-19, elevando para 604.228 os óbitos da pandemia. Com 15.610 novos casos de contágio, chegou a 21,7 milhões o total de infectados, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Embora a situação apresente tendência de estabilidade, de acordo com o Boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os patamares seguem preocupantes e cientistas temem uma retomada da covid-19.
Isso porque medidas de proteção estão sendo progressivamente abandonadas de maneira precoce. Algo similar aconteceu em países que avançaram com a vacinação mais rapidamente do que o Brasil. Com o fim das medidas protetivas sem controle devido da transmissão, os casos voltaram a subir e alertas foram acionados. O Reino Unido, por exemplo, abandonou o uso de máscaras. Mesmo que apenas em locais abertos, o resultado foi negativo e, desse modo, com mais de 45 mil casos diários, o governo britânico estuda retomar medidas protetivas.
Abandono precoce
Assim como o Reino Unido, Cingapura vive o pior momento da pandemia desde o início do surto. No país asiático, as autoridades já retomaram medidas protetivas, inclusive com isolamento social mais intensivo, como parte de uma estratégia sanitária aprovada pelo governo para ser adotada até 2024. Os dois países apresentam taxas elevadas de vacinação, 99% em Cingapura e 65% no Reino Unido. “Mas por que estão vendo aumento de casos? Um número reduzido de pessoas com máscara, o aumento das aglomerações sociais, a baixa taxa de vacinação entre os jovens são componentes importantes como parte da resposta”, afirma a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) .
O vírus tem poder, ainda que reduzido, de circular entre vacinados. Em especial a variante delta, dominante no mundo. Além disso, apesar de extremamente eficientes, não existe vacina com 100% de eficácia para nenhum vírus. Assim também é para a covid-19. Logo, com disseminação descontrolada, ainda que com menos mortes, elas serão muitas. Outro risco de uma circulação acentuada é a possibilidade de novas mutações. “Se a transmissão permanecer alta, novas variantes podem surgir. O Reino Unido monitora a circulação de uma variante ‘descendente’ da delta (AY.4.2) que está causando um número crescente de infecções”, explica a especialista.
No Brasil
Com apenas 50% da população totalmente imunizada, Mellanie questiona se é o momento de abandonar medidas para mitigar efeitos da covid-19 em massa. “O Brasil está com 50% da sua população total vacinada com duas doses, um belo marco, mas que precisa seguir aumentando com urgência. O que vocês imaginam que pode acontecer em estados que estão por dispensar a obrigatoriedade de máscaras neste momento?”, alerta.
Cenários de retomada da covid
O biólogo e divulgador científico Atila Iamarino reforça que a situação da pandemia está melhorando, mas “está longe de acabar”. “O Sars-CoV-2 se estabeleceu entre nós”, disse. Entretanto, ele projeta três cenários possíveis para o desenvolvimento do surto. Em um primeiro cenário, segue a tendência atual de que as vacinas funcionam bem como barreira e as pessoas passem a ter casos mais leves da doença, com vulnerabilidade maior para idosos e imunossuprimidos. Em um segundo, as vacinas seguem funcionando mas apresentam imunidade temporária. Neste caso, todos precisarão de doses de reforço. Em um terceiro, o pior, o vírus apresentaria uma mutação e “escaparia” das vacinas.
“Enfrentar a covid agora não seria a mesma coisa que 2020. O vírus em 2020 era transmissível para 2 a 3 pessoas. Agora a variante delta infecta até 9 por vez. Ela causaria muito mais casos muito mais cedo sem imunidade e sem medidas de distanciamento (…) Resumindo, no primeiro cenário, pelo menos idosos e crianças (ainda não vacinadas) se beneficiam de máscaras e distanciamento. No segundo, todos se beneficiam de máscaras e distanciamento e precisam de vacina reforço. No último, sem máscaras e distanciamento, seria a pior onda da pandemia”, explica.