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Folia, protestos, alegrias, esperança. Há muito tempo não se via um Carnaval como este
14 de Fevereiro de 2018 / Geral
Em um das festas mais politizadas dos últimos anos, o Carnaval levou os foliões em diversas cidades a aproveitaram a folia para demonstrar sua indignação e descontentamento com o atual momento social e político do Brasil e também para lutar pelo seu lugar na festa, em defesa de direitos sob ataque.
Marquês de Sapucaí
No desfile do grupo especial do Rio de Janeiro, as escolas de samba levaram para a avenida a indignação do brasileiro. Quarta escola a entrar na Marquês de Sapucaí na noite de domingo, a Paraíso do Tuiuti levantou o público com o enredo que pergunta “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” e foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais durante todo o carnaval.
A agremiação falou sobre os 130 anos da Lei Áurea e usou e abusou da criatividade para fazer uma crítica ao atual cenário político do país. Em uma das alas, a escola ironizou os manifestantes que pediram o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Na fantasia, os "manifestoches" traziam um pato amarelo e batiam panelas, atendendo ao comando da manipulação midiática.
A escola do bairro de São Cristóvão também trouxe para avenida trabalhadores mostrando a carteira de trabalho, uma crítica à reforma trabalhista. O último carro trouxe ainda um grande vampiro com faixa presidencial e carregado de dólares, em clara referência a Michel Temer.
Para o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Gilberto Maringoni, a festa serviu para unir descontentamentos dispersos. Segundo ele, o Poder Judiciário, "que julga sempre a favor dos ricos sempre a favor dos de cima" e "o pobre da periferia apanhando a polícia" são resquícios da escravidão, que a Tuiuti ajudou a explicitar.
A Mangueira também fez desfile em tom de protesto, com críticas ao prefeito Marcelo Crivella (PRB), que cortou verbas de apoio ao Carnaval. Um dos carros da escola trazia a silhueta do Cristo Redentor encoberta – referência ao Cristo Mendigo de Joãozinho Trinta, censurado em 1989 – com os dizeres "Olhai por nós, o prefeito não sabe o que faz".
Acessibilidade
Deficientes auditivos puderam acompanhar a transmissão do carnaval do Rio de Janeiro com tradução em Libras pela TV Ines.
Crianças
Também no Rio, a bandeira dos direitos da criança e do adolescente foi levada pelos foliões mirins. No bloco criado pela Fundação São Martinho, que atende crianças e jovens em condição de vulnerabilidade social, o grito de Carnaval foi pela inclusão, e levou para as ruas da Lapa, no centro da cidade, bandeiras pelo fim da exploração sexual infantil, pela proteção das crianças e adolescentes, direitos humanos, educação e cultura.
“A gente quer gritar para a cidade que a criança e o adolescente também têm direitos”, diz o coordenador da Fundação São Martinho, Valdinei Martins.
Mulheres na bateria em SP
No carnaval paulistano, o bloco Pagu uniu mulheres em uma potente bateria para lutar contra o machismo e homenagear outras figuras femininas que fizeram história na música brasileira nesta terça-feira (13) de Carnaval.
"Pagu foi considerada uma mulher que era muito à frente do seu tempo, e que tentou abrir caminho dentro de um espaço completamente sexista", diz Mariana Bastos, uma das fundadoras. "Ela brigou muito pela liberdade dela mesma. Virou um grande símbolo", completa, sobre a poeta e jornalista que participou dos círculos modernistas.
Com músicas que viraram clássicos nas vozes de grandes cantoras brasileiras, o bloco também era formado apenas por ritmistas mulheres. "É muito importante para o carnaval mulheres batuqueiras tocando, lutando contra o assédio, contra o sexismo, um bloco feminista que se coloque mostrando que a mulher pode fazer o que ela quiser, inclusive tocar percussão", diz Maria Carolina Simões.
Catadores
Também na capital paulista, catadores de recicláveis fizeram um desfile-protesto na terça feira para conscientizar sobre a importância da coleta seletiva e também para denunciar os problemas da categoria, com dificuldades cada vez maiores na gestão de João Doria (PSDB).
Com o lema "Tema Carnaval Sem Catador é Lixo", o Bloco da Reciclagem foi impedido de acessar o Largo da Batata, na zona sul da cidade, com os seus carrinhos, por decisão da subprefeitura de Pinheiros. "É um ato de protesto para que o cidadão saiba que existe coleta seletiva e que por trás dos resíduos, existe uma categoria que necessita trabalhar", afirmou um dos catadores.
Brasília
Em Brasília, a festa foi marcada pelo clima eleitoral. Nos blocos de rua, as famílias marcaram presença com camisas e faixas em defesa do direito do ex-presidente Lula participar das eleições. "Eleição sem Lula é fraude" e "Cadê as provas" eram alguns dos bordões mais ouvidos e lidos.
"A gente precisa de uma Justiça do povo, e não uma Justiça de uma classe burguesa que defende só os seus interesses e se sente ameaçada com o presidente faz justiça social", afirmou o folião Antonio Marcos da Silva.
"A gente está aqui para combater o golpe e resgatar o nosso Brasil para nós, trabalhadores, servidores públicos, aposentados, pessoas que sustentam essa Nação", disse a professora Claudia Regina Lima.
Fonte: RBA
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