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População ainda ignora relação entre câncer e alimentação adequada

18 de Outubro de 2016 / Saúde

Venilton Küchler/ SESA

Venilton Küchler/ SESA

São Paulo – É pela boca que uma quantidade significativa da população dos tempos modernos tem morrido. Atualmente, a alimentação e a nutrição inadequada são consideradas a segunda causa de câncer capaz de ser evitada. Nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, a má alimentação corresponde por até 20% dos casos de câncer e por 35% das mortes causadas pela temível doença – apenas atrás do tabagismo.

Os dados foram apresentados hoje (17) por Thainá Alves Malhão, coordenadora substituta da Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), durante o encontro Cartografias da Agricultura Brasileira.

Em pouco mais de uma hora, a nutricionista e doutora em saúde coletiva mostrou uma série de dados e pesquisas que evidenciam o quanto a população, em geral, acredita que está se alimentando, mas na realidade está trilhando o caminho para o desenvolvimento de algum tipo de câncer. São 20 milhões de novos casos de câncer no mundo a cada ano, sendo 600 mil no Brasil, onde já é a segunda maior causa de morte no país.

Segundo Thainá, o hábito de uma alimentação in natura, baseada em frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas, tem efeito protetor contra o câncer, podendo evitar entre três e quatro milhões de novos casos da doença, por ano, no mundo. “O oposto é uma dieta baseada em produtos ultraprocessados, que são aqueles prontos para o consumo ou que necessitam apenas aquecer, além de bebidas açucaradas”, explicou. Em 2011, por exemplo, estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), com 18 produtos que estampavam a imagem de uma fruta em seu rótulo, revelou que oito não apresentaram nenhum vestígio da fruta em questão. Na maior parte dos outros dez produtos, havia apenas cerca de 1% da fruta.

Tripé da saúde
Combinada com uma alimentação baseada em produtos in natura, a coordenadora do Inca destaca a importância da atividade física diária e do peso corporal adequado como práticas que evitam o surgimento de um em cada três casos de câncer mais comuns. Isso significa que de cada 100 pessoas com câncer, 33 poderiam não ter a doença.

Thainá Malhão explicou que o excesso de gordura corporal causa alterações hormonais e um estado inflamatório crônico que estimula a proliferação celular e prejudica a apoptose (morte programada das células). Neste quadro, a gordura contribui para a formação e a progressão de diversos tipos de câncer, como o de esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino, rins, mama, ovário, endométrio, entre outros.

No Brasil, 82 milhões de pessoas têm excesso de peso, pouco menos da metade da população de 206 milhões de habitantes, segundo o IBGE. Thainá Malhão alertou que 23% dos adultos brasileiros consomem refrigerante ou suco artificial regularmente (cinco vezes ou mais por semana) e mais de 70% da população do país consome elevadas quantidades de sódio.

Estudo realizado pelo centro de pesquisa Center for Science in the Public Interest (CSPI), nos Estados Unidos, em parceria com instituições governamentais e de pesquisa de diversos países, testou a quantidade da substância 4-MI (4-metil-imidazol), em latas de uma marca de refrigerante a base de cola vendida no Brasil, Canadá, China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, México e Reino Unido. Tal substância é um subproduto do corante caramelo IV, presente nos refrigerantes e classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde (OMS). O resultado do estudo mostrou que o refrigerante vendido no Brasil continha 267 microgramas (mcg) de 4-MI em uma lata de 355 ml, o maior índice dentre todos os países pesquisados.

Apesar das evidências científicas, a coordenadora do Inca apresentou uma pesquisa realizada no Reino Unido, em 2013, na qual 49% dos entrevistados não acham que a comida tem relação com o câncer; 66% não acreditam que a atividade física se relaciona com a doença; e 59% não creem que o peso corporal também está ligado ao câncer. “Considerando o nível educacional do Reino Unido, podemos imaginar que o resultado dessa pesquisa não seria muito diferente no Brasil”, ponderou Thainá Malhão.

Pesquisa realizada pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc) indica que a adesão às recomendações de consumo de alimento in natura, atividade física e peso adequado diminui em 10% o surgimento da doença e reduz em até 61% a mortalidade dos pacientes em tratamento.

In natura, apesar dos agrotóxicos
Durante a palestra, a coordenadora do Inca enfatizou a importância de se optar pelo uso de produtos alimentícios orgânicos ou agroecológicos, tanto pela questão da saúde, quanto pela preservação do meio ambiente e apoio a agricultura familiar. Mas se o consumo de produtos orgânicos não for possível, Thainá Malhão afirmou que ainda assim é melhor usar frutas, verduras e legumes mesmo com resíduos de agrotóxicos do que consumir produtos processados e ultraprocessados.

“Há evidências de que os benefícios na prevenção do câncer superam os malefícios do consumo desses alimentos com agrotóxicos”, disse ela, explicando que as vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos existente nos vegetais previnem contra diversos tipos da doença. “O ideal é consumir produtos orgânicos, mas se não for possível, não se pode deixar de usar esses alimentos”, afirmou, enfatizando que estudos indicam que a redução do consumo de frutas, legumes e vegetais pode aumentar os casos de câncer.

 

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