Estudo aponta que Brasil está pronto para redução da jornada de trabalho

Um estudo publicado pelo centro de pesquisa Transforma, da Universidade de Campinas (Unicamp), em parceria com o Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), revela que o Brasil está preparado para reduzir a jornada de trabalho para 36 horas semanais, com adoção da escala 4x3 (quatro dias trabalhados e três de descanso).
A proposta, embasada em dados socioeconômicos e entrevistas com sindicalistas, defende que a mudança melhoraria a qualidade de vida, reduziria a desigualdade de gênero e impulsionaria a economia.
“Situada no centro da luta entre capital e trabalho, a diminuição da jornada sem redução salarial é um passo fundamental contra a exploração da classe trabalhadora. A reivindicação pela redução da jornada de trabalho trata-se de um movimento histórico e basilar da luta popular e do sindicalismo, pautado na busca por condições dignas de trabalho e de vida”, aponta o documento.
Destaques do estudo:
470 mil afastamentos por saúde mental foram registrados em 2024, o maior número em uma década, com alta de 68% em relação a 2023. A escala 6x1 está diretamente ligada a índices elevados de insatisfação e pedidos de demissão, especialmente em setores como comércio e telemarketing.
20,88 milhões de brasileiros (20% da população ocupada) trabalham em sobrejornada, excedendo o limite legal de 44 horas semanais. Homens negros são os mais afetados: representam 36,7% desse grupo.
Mulheres acumulam 11 horas diárias de trabalho remunerado e não remunerado (como cuidados domésticos), 6 horas a mais que os homens. A redução da jornada poderia redistribuir essas tarefas e ampliar a inclusão feminina no mercado formal.
Setores como transporte, comércio e telemarketing concentram as piores condições: 30% dos trabalhadores de alojamento e alimentação estão em sobrejornada. No telemarketing, 72% dos profissionais são mulheres, submetidas a metas abusivas e rotatividade de 55,7%.
A PEC 36 horas
Protocolada em fevereiro de 2025 pela deputada Érika Hilton (PSOL-SP), a proposta visa alterar a Constituição Federal para limitar a jornada a 8 horas diárias e 36 semanais, com implementação gradual em um ano.
A mudança atingiria 37% dos trabalhadores formais (38,4 milhões) e geraria impacto indireto em informais.
“A redução da jornada de trabalho é uma bandeira histórica da classe trabalhadora e encontra respaldo em movimentos globais que buscam melhorar a qualidade de vida das trabalhadoras e dos trabalhadores. Além disso, essa medida pode gerar novos postos de trabalho, contribuindo para a redução do desemprego e da informalidade”, defende Marilane Teixeira, economista e uma das autoras do estudo.
Como resultado, a pesquisa sugere que “a redução da jornada de trabalho é uma medida não apenas viável, mas essencial para promover a saúde ocupacional, a estabilidade no mercado de trabalho e uma redistribuição mais equitativa da renda. As experiências de empresas que já implementaram jornadas reduzidas mostram que é possível equilibrar produtividade e bem-estar”.
O estudo também tem como autoras Clara Saliba, economista e coordenadora do Transforma-Unicamp; Carolina Lima e Lilia Bombo, graduandas em Ciências Econômicas da Unicamp e integrantes do centro de pesquisa.
Leia a íntegra do estudo no link: https://transformaeconomia.org/wp-content/uploads/2025/04/NT13-PT.pdf
Fonte: DIAP