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Ganhos dos bancos com a diferença de juro não caem
27 de Março de 2018 / Economia
Arquivo/Agência Brasil
A taxa Selic caiu quase oito pontos percentuais desde o fim de 2016 e está na mínima histórica, em 6,5% ao ano, mas o consumidor mal percebe o efeito disso nos juros cobrados pelos bancos.
Estudo da LCA Consultores indica que os bancos têm demorado mais para repassar a queda da taxa Selic ao consumidor do que mostram os dados do BC (Banco Central), embolsando essa diferença nas principais linhas de crédito à pessoa física.
Com isso, eles mantêm as margens de lucro — o chamado ‘spread bancário’.
O spread é a diferença entre o custo do banco para captar recursos no mercado e os juros cobrados no crédito.
Dados do BC indicam que o spread bancário nos empréstimos à pessoa física começou a baixar em março do ano passado. Desde então, caiu 15 pontos percentuais.
Boa parte desse recuo, porém, se deveu às mudanças ocorridas em uma única linha, o rotativo do cartão de crédito —que foi alterado por determinação do BC.
Sem o rotativo do cartão, diz o economista da LCA, Vitor Velho, a queda do spread é menor que 4 pontos e veio bem mais tarde, no último trimestre do ano. Isso explica porque o consumidor que pediu ao banco um empréstimo pessoal, por exemplo, quase não sentiu alívio no bolso. Mas quem costuma se enredar no rotativo está um pouco melhor.
Os juros médios do rotativo do cartão caíram fortemente, de 490,3% ao ano para 327,9% ao ano, diante da regra que impede que o consumidor fique mais de 30 dias no rotativo, válida desde abril de 2017.
Os juros do crédito pessoal — que inclui as linhas mais usadas— ainda não definiram uma tendência. Eles saíram 52,4% ao ano em março de 2017, chegaram a 44,3% em dezembro, mas voltaram a subir em janeiro (46,1% ao ano). Os dados de fevereiro saem nesta segunda-feira (26). Em termos de volume, no entanto, não há comparação entre uma linha e outra.
A carteira de crédito pessoal reúne R$ 414 bilhões ante R$ 33,3 bilhões do rotativo.
Além disso, uma parte da queda dos juros médios verificada no rotativo foi compensada pelos juros crescentes do parcelado— a linha que o consumidor tem que aderir se ficar acima de 30 dias no rotativo do cartão.
Os juros do parcelado saíram de 158,5% ao ano em março do ano passado para 171,5% ao ano em janeiro.
Já o custo de captação dos bancos acompanha fielmente a taxa Selic e cai mês após mês. Desde que a taxa Selic começou a cair, em outubro de 2016, o custo caiu de 12% ao ano para 8,5%, diz Velho.
“Tudo isso é uma evidência de que as taxas de juros que afetam diretamente a pessoa física vêm andando de lado, mesmo com a queda da inadimplência do consumidor”, diz o economista.
Em 2012, lembra Velho, quando a Selic também caiu com força, os juros bancários caíram, puxados pelos bancos públicos. Velho acha positivo que, desta vez, não haja interferência do governo, mas avalia que os bancos devem começar a se mexer.
A agenda do Banco Central que inclui o cadastro positivo — banco de dados com informações do consumidor— pode ser um começo, diz.
Para João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, os bancos tentam segurar margens por meio de spreads elevados, como uma forma de compensar também o efeito da queda dos juros nas suas carteiras de títulos e ações. Ex-diretor do BC, Luís Eduardo Assis diz que a forte concentração do crédito nos cinco grandes bancos explica a queda menos veloz dos juros.
“Além de estarmos diante de um oligopólio, há pouca transparência nos custos cobrados”, diz Assis.
Segundo ele, o elevado nível do compulsório (volume de recursos que os bancos têm que deixar no BC), explica por que os juros são altos, mas não por que não caíram em linha com a taxa Selic.
“Ganharíamos se o Banco Central reconhecesse que a falta de informação pode dar aos bancos um poder de mercado exageradamente elevado”, diz. Ele sugere informações mais claras sobre custos aos clientes e facilidade para encerrar ou transferir contas correntes entre os bancos.
Consultados, os maiores bancos disseram que vêm baixando os juros no crédito.
Fonte: Folha de SP