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Ciclo de corte de juros pode fazer investidores migrarem para a poupança
23 de Agosto de 2017 / Economia
O atual ciclo de corte dos juros básicos deve gerar uma migração do investidor de fundos com altas taxas de administração para a poupança. O alerta é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) e baseia-se no ingresso recorde de recursos na caderneta entre 2012 e 2013, última vez em que a Selic esteve na casa de um dígito.
Os juros básicos voltaram a esse patamar no fim de julho, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa em um ponto porcentual, para 9,25%.
“Quando a Selic cai a um dígito, a lógica ao procurar ‘referenciados DI’ (fundos de investimento de baixo risco, que têm a maior parte de seu patrimônio formada por títulos do governo) é buscar fundos com taxa de administração de até 1%”, afirma o diretor de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira. “Naquela época (em 2012), não só o pequeno investidor, mas o grande investidor migrou para a poupança”, diz.
Para a próxima reunião do Copom, em setembro, a maior parte do mercado espera um corte adicional de 1 ponto porcentual da taxa básica de juros. Mesmo que a magnitude da redução seja menor, para 8,50% ao ano, a mudança acionará uma alteração automática na rentabilidade da poupança. Esse gatilho faz com que a caderneta passe a render a Taxa Referencial (TR) mais 70% da meta Selic para os depósitos feitos a partir 4 de maio de 2012, em vez de remunerar com TR mais 0,50% ao mês.
Um estudo feito pela planejadora financeira Letícia Camargo indica que somente fundos com taxas de administração próximas ou menores que 1% remuneram mais do que a poupança em determinados prazos, considerando a Selic a 8,25% ao ano. Aqueles que cobram até 1,20% ganham da poupança somente nos depósitos que duram mais de dois anos, quando a alíquota do Imposto de Renda (IR) cai a 15%. No estudo da especialista, fundos com taxas de 1,3% ou mais não ganham da poupança em nenhum prazo.
Opções. Uma pesquisa do Estadão/ Broadcast mostra que há alternativas de investimento que apresentam risco equivalente ao de títulos soberanos (títulos de dívida que costumam ter risco mais baixo, pois são emitidos por governos) e liquidez imediata com taxas de administração de até 1%. O estudo indica que há mais de 250 fundos nessas condições.
Segundo o levantamento, há, porém, fundos com custos ainda altos. Há, por exemplo, cerca de 20 fundos com resgate imediato disponíveis ao investidor comum e com taxa de administração de 4% ou mais. Entre esses, alguns chegam a cobrar 5,5%. Obviamente, a rentabilidade anual desses fundos deixa a desejar. Alguns remuneraram nos primeiros sete meses de 2017 menos do que a poupança, que rendeu 4,69% no período. Nenhum conseguiu entregar nem 65% do CDI, indicador de referência para aplicações conservadoras e que fechou o período com 6,60%.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro de Capitais (Anbima), os fundos de curto prazo nas categorias “grau de investimento” e “soberano” (ambas tidas com de risco mais baixo) encerraram os sete primeiros meses do ano com retornos de 6,50% e 6,63%, respectivamente.
Mudanças entre as aplicações exigem atenção do investidor. A planejadora Letícia Camargo alerta que a caderneta remunera apenas quando o depósito completa 30 dias. “Se o investidor resgata antes disso, aquele dinheiro terá zero de remuneração.”
Saldo opera no azul há 3 meses
Depois de dois anos operando no vermelho, a diferença entre aportes e saques na poupança ficou positiva nos últimos três meses, com o saque das contas inativas do FGTS. Em julho, o saldo foi positivo em R$ 2,336 bilhões, segundo dados do Banco Central. No acumulado de 2017 até julho, porém, a conta é negativa em R$ 9,955 bilhões.
Fonte: Estadão